Tropa Escoteira

Ponto de encontro dos Escotistas da Tropa escoteira do Curso Avançado 2010 UEB DF

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Falando um pouco do RPG

Achei o artigo interessante, vale a pena pensar e quem sabe até utilizar para ajudar nas nossas atividades. Lógico que sempre utilizando essa excelente ferramenta a nosso favor e não para fins que denigrem e destroem os valores que pregamos no movimento. Bem leiam e construam suas próprias opniões a respeito.

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RPG é uma forma de ressignificar o mundo

Como conceito, o RPG possui três princípios básicos: contar história, cooperativismo, e interatividade.

O que é exatamente RPG? Primeiro é importante que se esclareça que não é um jogo no sentido estrito da palavra, jogo aqui está empregado no sentido de (como nos coloca o Dicionário) brinquedo, passatempo ou divertimento. RPG é um conceito. Como conceito, o RPG possui três princípios básicos: contar história, cooperativismo, e interatividade. O jogo consiste em contar historias e esta pode se passar em qualquer época, e ter qualquer tema: ficção científica, medieval, história do Brasil etc...

Contar Histórias: contar histórias é uma das mais antigas atividades do homem, desde a época em que o homem se constituiu como homem (ou seja, que passou a viver em sociedade) ele precisou de uma forma de se organizar, de se fazer entender. No início quando não existia a escrita as tradições, leis e demais aspectos culturais eram transmitidos oralmente. Ainda podemos ver isso em cidades do interior, uma característica que vem se perdendo nas cidades maiores. O RPG se utiliza desse conceito, nele uma história é contada e criada por várias pessoas de forma interativa e cooperativa; nesse processo são distintos dois tipos de posição: a do jogador e a do narrador (ou mestre), os jogadores criam e interpretam um único personagem, o narrador interpreta todos os outros personagens de uma cena, descreve as situações, etc.; seria o equivalente a dizer que os jogadores são atores e o narrador faz o papel de diretor, contra-regra, palco, coxia, platéia e cenário, entretanto o narrador não interfere nas falas e nterpretações dos jogadores, como um diretor faria.

Cooperativismo: Imagine uma equipe de revezamento: você torceria para seus companheiros irem mal na prova? Certamente que não! Agora retire desse quadro outras equipes e que você e sua equipe praticam o revezamento porque gostam da atividade e tentam correr cada vez mais rápido: você incentivaria ou retardaria os outros membros da equipe? Certamente você ajudaria. Essa analogia ajuda a entender como funciona o RPG, o narrador eqüivaleria a alguém que marca o tempo de sua equipe e que assegura que todos corram dentro da área correta, ele não tem interesse em vitórias ou derrotas, ele ajuda na promoção do divertimento, assim como os jogadores (que devem agir em conjunto) não têm interesse nos outros jogadores irem mal.

Interatividade: Durante a partida de RPG todos os jogadores são incentivados a interagir com os outros jogadores e o narrador, sendo um jogo de cooperação todos devem ajudar na formulação da história (que pode passar por situações-problema ou descrições de pessoas e lugares), os jogadores descrevem cenas e atitudes de seus personagens e interpretam suas falas e o narrador de todos os outros personagens e cenário envolvido. É uma atividade de alto teor imaginativo. Nesse momento já deve estar claro ao leitor a potencialidade pedagógica e de sociabilização que o RPG traz. Ele é utilizado como ferramenta pedagógica (contar uma história onde os participantes precisam de conhecimentos de física, por exemplo) e de auxílio na socialização (pela necessidade de interatividade) por pedagogos e outros estudiosos que já produziram bons trabalhos sobre o tema.

Na contramão disso tudo existe, em alguns casos, uma associação do RPG com crimes e violência, sobre isso é necessário, antes de tudo, ponderar que uma ferramenta não deve ser culpada por seu mau uso. E que o RPG em si não tem qualquer vinculação com violência ou crime, como citado antes ele é um conceito, que tem tema livre. Antes a arte, os esportes e o trabalho eram vias de elaboração de conteúdos que preferíamos deixar na ignorância (ou mesmo que nem existissem) da consciência. Entretanto hoje, ao que parece, o deslocamento para o consumo vem trazendo uma nova forma de ´bem viver´. O ´bem viver´ estava ligado ao pensamento, à arte, enfim todas passavam pelo sujeito que elaborava algo; hoje o ´bem viver´ é consumir; estamos inundados por uma cultura da compra da completude e da aquisição da felicidade (quando sabemos que isso é impossível).

A compra pela compra deve gerar felicidade, o ´bem viver´ saiu das mãos do sujeito e passou para o objeto. O trabalho se tornou um mero meio de obter subsídio para o consumo e a sublimação e o deslocamento escoam pelo ralo junto com a falta de elaboração do sujeito (que já não cria, pensa ou se angustia; apenas consome para tentar tampar o buraco que não pode ser obturado: a falta). O sujeito passa a ver outros sujeitos como objetos, uma analogia seria o mesmo que dizer “para praticar esporte é preciso de uma bola”, essa afirmação é falsa. Natação é um esporte e não precisa de uma bola.“esticáveis”, “alongáveis”, descartáveis... neste ponto vem surgindo uma cultura de banalização da violência. E a pergunta que fica não é sobre as ferramentas em si, mas sim sobre as pessoas que se utilizam dessas ferramentas.

Iratan Bezerra de Sabóia é psicólogo clínico e responsável técnico pela Revista Mal-estar e Subjetividade, do Mestrado em Psicologia da Universidade de Fortaleza (Unifor)